5/29/06

As madeixas.

Ela sempre travou uma batalha eterna com seu próprio cabelo. Passava milhões de produtos e coisas pra tentar deixá-lo do jeitinho que ela queria, nunca teve sucesso. Semana passada comprou um produto que prometia diminuir o volume dos cabelos sem ressecar nem deixar sem brilho, comprou. Aplicou o produto nos cabelos, esperou o tempo necessário, lavou e pronto. O volume diminuiu, de fato, mas a quantidade de cabelos também, eles caíram.

5/27/06

Better Together.

Ela adora o Jack Johnson, ele é tudo que ela sempre quis ser. Só faz o que gosta, mora na praia, trabalha quando quer e viaja o mundo inteiro. Quer mais? Ok, é até bonitinho.
Compulsiva como só ela, escuta a mesma música milhares de vezes, se tratando de Jack Johnson, já teve fases de Taylor, Banana Pancakes, Flake, High tide or low tide, e agora está numa fase Better Together, uma das músicas mais melosas e fofas que sairam da cabeça havaiana daquele homem espetacular.
Ela já curtia o som há algum tempo, bem antes de ficar pop e lotar estádios. Mesmo pop... Ela continua achando bom pra caramba...

Better Together
There's no combination of words
I could put on the back of a postcard
No song I could singBut I can try for your heart
Our dreams, and they are made out of real things
Like a, shoebox of photographs
With sepiatone loving
Love is the answer, at least for most of the questions in my heart
Like why are we here? and where do we go?And how come we're so hard?
It's not always easy and sometimes life can be deceiving
I'll tell you one thing its always better when we're together

MMM its always better when we're together
Look at the stars when we're together
Its always better when we're together
Yeah, its always better when we're together

And all of these moments just might find there way into my dreams tonight
But I know that theyll be gone when the morning light sings
And brings new things but tomorrow night you see
That theyll be gone too
Too many things I have to do
But if all of these dreams might find there wayInto my day to day scene
Ill be under the impression
I was somewhere in between
With only twoJust me and you
Not so many things we got to do
Or places we got to beWe'll Sit beneath the mango tree

Its always better when we're together
Somewhere in between together
Its always better when we're together
Yeah, its always better when we're togetherMMmmmm MMMmmmm Mmmmmm
I believe in memories they look so, so pretty when I sleep
Hey now, and when I wake up you look so pretty sleeping next to me
But there is no time and there is no song I could sing
And there is no, combination of words I could say
But I will still tell you one thing
We're Better together.

5/26/06

Visita técnica.

Hoje ela recebeu uma visita dos técnicos da Telefônica, para tentar resolver o problema de ontem, da internet. Chegaram, fizeram algumas perguntas, pediram pra testar o telefone, e finalmente olharam a tomadinha do telefone. “Olha moça, a senhora precisa ter cuidado com isso aqui, tá meio frouxo, pode desconectar a qualquer momento”. Apertou a tomadinha com o indicador, fez um “plec” e pronto, eis que a internet voltou!! É óbvio que ela se sentiu uma completa idiota.Pra se consolar, comprou passagens da companhia aérea do povão por 25 reais, cada trecho, pra Belo Horizonte (de novo!!).

Cúmulo.

Ela ODEIA ficar sem internet, parece que está em outro planeta, vagando pelo espaço sem nenhuma comunicação com a Terra. Seu provedor de acesso não funcionou ontem o dia inteiro, ela tentou de tudo, trocou cabos, enfrentou atendimento eletrônico do suporte técnico, teclou mais de 20 vezes seu código DDD e número de telefone e escutou outras 20 “vamos estar enviando um técnico para estar solucionando seu problema em até 24 horas”. Moça, a senhora não está entendendo, ela não agüenta mais 24 horas isolada do mundo!!E claro, como pra ela desgraça pouca é bobagem, na noite da pane total do provedor de acesso a empresa aérea do povão decide fazer promoção de passagens pela módica quantia de 25 reais, hã?? É isso mesmo?? Como assim?? É. Isso aí. VINTE E CINCO REAIS. Ainda que fossem dólares!!! Ela está se conformando de que essas coisas só acontecem com ela.

5/23/06

O Zumbi.

Ela é uma criatura das trevas, adora viver no escuro, de noite. Os dias foram feitos para dormir, nada como o sono da manhã e da tarde, e quanto está escurecendo, eis que começa um novo dia, cheio de gás sem sol nem barulho, a noite é muito mais legal.
É quando está escuro que ela tem as melhores idéias, a cabeça fervilha durante as madrugadas e brainstorms acontecem naturalmente, sem nenhum esforço, são fluídos e proveitosos.O grande problema de tudo isso é prático. Se a produção durante o dia é praticamente nula, qual emprego se aplica? Ela precisa trabalhar na noite, abrir um bar, uma boate... Mas também perderia suas horas de diversão. Ela não sabe o que fazer. Ela jura que durante toda a próxima semana vai viver de dia e dormir a noite, durante esse tempo serão medidos os índices de produtividade intelectual. Os resultados poderão ser conferidos aqui. Aguardem.

Loucura.

Ela é compulsiva. Quando gosta de alguma coisa beira a adoração. Se descobre um cantor bacana, providencia todos os cds, dvds, entrevistas, sabe tudo da vida da vida do cara, hobbies, influências e tudo mais. Se é um escritor pior ainda, a vida dele é, provavelmente, muito mais reservada, dá mais trabalho descobrir tantos detalhes, e a espera pelo próximo livro é quase torturante, mas quando o lançamento é anunciado, ela trata logo de comprar seu exemplar em pré-venda na loja que se compromete com a entrega mais rápida do mercado, dois dias depois já tem todo o romance na ponta da língua e é a primeira da fila na tarde de autógrafos. Quando gosta de filmes e seriados é capaz de assistir seguidamente a fita inteira, decorar diálogos e figurinos.
Ela nasceu no décimo primeiro dia de abril, período onde todos os nascidos são denominados arianos pelo zodíaco. Ela não entende nada disso, nem acredita. Mas admite a coincidência de várias características atribuídas ao signo de Áries como suas também. A intensidade é a maior de todas as coincidências, ela não conhece, no mundo inteiro, pessoa mais intensa, ou tanto quanto ela.
Rapazes, então... É bom tomarem muito cuidado.

Coke Ring.

Este selo aí ao lado significa que este blog está entre os 30 colocados no ranking da seleção Coke Ring. Os acessos serão computados por este contador, e o blog pode subir de colocação, ou não... Caso consiga alcançar o top 10, ela ganha presentinhos. Se não alcançar não tem problema, já valeu o reconhecimento.

5/22/06

A tecnologia.

Ela adora tecnologia e novidades, está sempre almejando os últimos lançamentos e coisas que até então não faziam a menor falta. Transações pela internet, câmeras digitais, cursos on-line, compras virtuais, iPods e webcams são, para ela, as maravilhas do mundo atual.
Toda essa ligação com as novas tecnologias não parece ser compatível com a energia de tais aparelhos. Tudo pifa, simplesmente pára de funcionar.
A câmera digital pifou, o DVD pifou, a TV pifou, a webcam pifou, o telefone moderno pifou, o microfone pifou e o controle remoto pifou.
Nessas horas ela questiona a diversão por meio de novas criações, e escuta o bom e velho radinho de pilha (que sintoniza TV, tem lanterna e relógio-despertador).

5/17/06

Íngreme.

Ela morava em São Paulo há dois anos e meio e durante esse tempo sempre passava as férias em casa, com a família e todos os amigos, que não eram poucos. Sua melhor amiga, a Maíra, tinha ido morar em Belo Horizonte no início deste ano. Ela achou uma ótima idéia, os encontros seriam menos difíceis entre as férias. Calendário sempre à mão, em busca de algum feriado possível de uma viagem até lá, ou da Maíra até ela. Semana Santa, ótimo. O aniversário dela era naquela semana e a GOL disponibilizou gentilmente uma mega promoção no site. Cinqüenta reais cada trecho, cem ida e volta. Pediu as passagens de presente para sua mãe e esperou chegar o dia da viagem. Maíra conta a aventura mais emocionante do feriado.

Semana Santa em Belo Horizonte. Sem família. Sem ovos de Páscoa. Sem almoço especial de domingo... Mas nem tudo está perdido! Tem visita de melhor amiga, vinda de São Paulo e na mesma situação. É deixar as mazelas de lado e curtir a semana, depois de tanto tempo sem encontrar – e os reencontros sempre se transformam em histórias lendárias pra contar.
Primeiro programa:
- Amiga, tenho que ir lá na rádio 98 FM pegar as fotos (Fotos com o pessoal do Los Hermanos, mas isso é papo pra outro post!), bora comigo???
- Bora, mas tu sabes onde é?
- Eu não, mas a gente descobre né? Vai perguntando, pergunta pro porteiro, pro motorista, pro cobrador, enfim. Sabes que gosto de ti por isso, tu topas tudo (em pensamento: se colar, colou!).
- Então vamo.
10 horas da manhã – a amiga tinha um compromisso meio dia – rumo a rádio, até então com um endereço que pra nós não fazia o menor sentido. É na Serra, rua Dr. Camilo. O ônibus que se devia pegar é o 9106, informação triplamente confirmada (pelo pessoal da casa, pelo porteiro e pelo cobrador do ônibus!!!).
Papo vai, papo vem, são muitas novidades, muita conversa pra se por em dia, e o ônibus subindo, subindo, subindo...
- Moço, onde é que a gente desce pra ir na Rua Dr. Camilo?
- Dr. Camilo? Ah, tem que descer no final da linha.
E o ônibus subindo, subindo e subindo...
Final da linha. Entrada da favela da Serra. Ai, ai, ai.
- Moço, e agora, como é que a gente vai pra Rua Dr. Camilo?
- Olha, acompanhem essa senhora aqui que ela tá indo pra lá.
- Hum. Então tá.
Profecia da amiga:
- Oooolha, não é querer falar, mas tu sabes que quando é comigo tudo acontece né? Esse lugar vai ser longe pra caramba, e aposto que tudo subida pra chegar... E ainda vou cair!
Apreensão.
Seguimos a senhora. Simpática ela. Ia com sua filha pra tal da Rua Dr. Camilo. Até diminuiu o medo. Fomos conversando, ela dizendo que tinha que subir só mais umas duas ruas (ladeiras enooooormes, tudo conforme a profecia), e aí a gente já ia chegar. Menos mal. Se bem que perto de mineiro é um “trem” estranho...
De repente, a filha da senhora que nos acompanhava começa ter umas reações estranhas. Ela explica que a filha tem epilepsia (um ataque epilético no meio da rua, era só o que faltava, não?), mas que está tudo bem(!), ela só precisava ficar um pouco parada e ia voltar ao normal, mas que era melhor a gente continuar sem ela. Ela explica em bom mineirês:
- Ó aqui procê vê. Cês sobe essa rua, quebra pra esquerda e sobe de novo. Aí cês vão ver uma escadin. Pode subir. Quando chegar lá em cima, aí é só perguntar onde é a rádio que já é pertin pertin, certin?
Dia de calor em Belo Horizonte. Sol de meio dia. O compromisso da amiga foi pro beleléu. As subidas eram tortura, ainda mais pra pobre da amiga que estava com seus típicos sapatos de drag queen pra lhe favorecer alguns centímetros. Mas enfim... Chegamos na tal escada.
Ai, meu Deus, a escada! De escadinha não tinha nada. Tava mais pra pagador de promessa de Nossa Senhora de Aparecida. E pior, a escada era o acesso à favela. A rua que procurávamos ficava exatamente do outro lado!
- Moço, tem alguma forma de chegar na Rua Dr. Camilo sem subir?
- Olha, ter tem, mas aí cês vão ter que contornar toda a favela, aí vai ser bem longe... Pode subir, não tem perigo não.
Imagina!!! Se quando é longe eles dizem que é pertin, imagina o que significa quando eles dizem que é longe mesmo... Vamo subir a escada mesmo.
A escada era imensa. Íngreme. Estreita. Casas de um lado e do outro. Subo sem olhar pra trás. Não posso olhar. Morro de pena da pobre amiga e sua plataforma botando os bofes pra fora. Digo palavras de força:
- Vem amiga, já ta chegando. Aqui em cima nem tem mais ladeira...
E só escuto uma voz triiiste, sem viiiida (sem ar!) me responder:
- Amiga, tô com dor nos rins!!!!!
Escada ultrapassada. Falta de ar. Dor nos rins. Mais informações. Era só pegar o terceiro beco e ir reto. Beco não é uma boa sugestão quando se está na favela, de fato. Mas o beco tinha uma vantagem. Era descida.
Pra amiga, a profecia se concretizava, tudo acontecia com ela. Descida era pior ainda com seus sapatinhos altos. Tira o sapato, leva na mão e desce descalça mesmo. E com dor nos rins. A rádio, ao longe já se via. E em frente à radio o que se via no momento era o paraíso: uma parada de ônibus (ponto de ônibus para mineiros!). Era ali que poderíamos ter descido, sem ladeira, sem escada, sem favela, sem ataque epilético, sem dor nos rins. Pegamos o ônibus errado!

ATENÇÃO!

O post abaixo é bastante extenso. Só inicie a leitura se tiver certeza que vai chegar até o fim.
Quanto ao conteúdo, ela garante ser bastante interessante.

5/16/06

O reveillon na ilha.


Era final de ano, ela queria muito passar o reveillon em Algodoal, uma ilha distante três horas de Belém onde até então não havia energia elétrica e não podem atravessar carros, os únicos meios de transporte são as carroças puxadas pelos pobres burrinhos. A ilha havia se tornado point de todos os jovens descolados da cidade, o que não a agradava muito, mas de certa forma fazia o lugar ficar bem mais animado do que era antes, quando somente os aventureiros tinham coragem de passar um tempo por lá.
Ela convidou a amiga Camila, a mais sem frescura de todas as amigas que também adorava o lugar e toparia sem problemas se aventurar por lá sem nenhuma programação. E além de tudo era uma das figuras mais engraçadas que ela conhecia, a diversão estava garantida. Camila sempre repetia a frase “Ebaaaaa! Vamos nos abraçar!” quando estava feliz.

“- Amiga, bora pra Algodoal? A gente vai na doida, com certeza consegue pousada!!!! E se não conseguir a gente dorme no chão... Um fim de semana... Alguém vai ter pena da gente, bora?!!!!!!
- Ai amiga, será? Eu sou muito medrosa... E se ninguém tiver pena da gente?
- A gente volta, ora!!! Mas vão ter, a gente tem cara de boa de coração, boraaaaaaa!!!!!
- Então tá!!! Eba!!! Vamos pra Algodoal aventurar e vamos nos abraçar !!!!!!!”


A jornada até a ilha começa na rodoviária da cidade de onde saem vans e ônibus. Três horas até Marapanim, município onde fica um pequeno porto de onde partimos de barco (os chamados popopô, barquinhos feitos de madeira cujo barulho do motor lhes valeu a denominação), quarenta minutos em média até uma ponta da ilha, distante uns vinte minutos de caminhada da vila onde ficam todas as pousadas e campings.
Acordaram cedo, colocaram as mochilas nas costas e foram para a rodoviária. Quatro horas depois lá estavam elas, na ponta da linda praia com suas pesadas mochilas nas costas e debaixo de um sol de meio dia. E lá foram elas, andando até a vila em busca de uma pousada pra guardar as coisas, descansar e depois correr para a praia (que também fica a uns vinte minutos de caminhada da vila, fora uma necessária travessia de canoa quando a maré está cheia).

“- Moço, tem vaga?
- Não. Desde outubro tudo reservado.
- Nadinha, moço? Nem pra acampar?
- Não.
- Poxa... Mas nem um pedacinho?
- Tem aquele ali perto do poço. Vocês têm barraca?
- Ihhhhhhh...não.
- Tá bom, obrigada.”


Alguns muitos quilômetros de caminhada depois:

“- Oi. Boa tarde, tem vaga?
- Não, tudo reservado.
- Nem quarto coletivo?
- Hum... Tem uns quartos ali mas estão sem acabamento... Nada muito confortável.
- Ah, moça! Quem vem pra Algodoal não quer conforto... Onde é?
- Cleivirsoooooooooooonnnn!!! Mostra lá os quartinhos da rua de baixo.”


Camila lembra: “Esperamos o garoto sair e fomos atrás, a mochila pesadíssima e o calor cada vez pior, niguém agüentava mais andar. Olho pra trás. Cadê a amiga? Olho pra frente, mas muuuuuuito pra frente e lá está ela, atrás do garoto errado. Começo a gritar: - Amigaaaaaaaa!!!! Voltaaaaaaaaaa!!!! Não é esse o menino!!! E lá vem a bichinha, suadíssima, correndo no sol.”

Chegaram aos quartos. Pela primeira olhada por fora, bem simples. Olharam por dentro, só as paredes. Abriram a torneira, a única pra todos os seis quartos, nada de água.

“- Ei! Não tem poço?
- Não. Se vocês quiserem podem tomar banho no banheiro de láááá.
- Lá, três ruas pra cima.
- Caramba, muito longe e uso lente, vou ficar cega se não tirar pra dormir.
- É, bora ver se a gente consegue outro. Obrigada Cleivirson.”


Mais algumas negativas depois.

“- Oi, o senhor tem água pra beber?
- Tenho sim, minha filha.
- E quarto, o senhor tem?
- Tenho, mas todos reservados, Deixa mostrar pra vocês. Todos têm cama de casal, ventilador e banheiro.
- Que pena, mas nem rede tem?
- Tem, mas é 50 reais por dia, com a rede.
- Muito caro moço, poxa...
- Olha. Mas tenho uma casinha simples no terreno aqui ao lado, dá pra fazer mais barato e vocês podem tomar banho aqui. Vamos lá.
- Tá bom.
- Moço, mas não tem porta? Nem janela?
- Mas tem essas tábuas aqui, dá pra colocar...
- E onde vamos dormir?
- Tenho uma esteira de palha.
- E nossas coisas?
- Eu posso guardar lá na pousada por um adicional...
- Temos pouca grana, eu sou muito medrosa e sem parede não dá, podem roubar nossa pureza. Obrigada, moço.”


Super vermelhas, muitas pousadas depois e com pouquíssimas forças:

“- Moça, tem vaga?
- No tengo (sim, ela era argentina e falava muito enrolado, então vamos traduzir)
- Han?
- Não tenho. Tudo Lotado.
- Nem rede?
- No. Mas tenho barraca. Vocês podem tomar banho aqui e guardo as coisas.
- Quanto é?
- Setenta e cinco reais cada, até domingo.
- Legal. Fechado.
- Eba!!!!! Conseguimos, tá vendo amiga, agora é só curtir!!!”


Um funcionário da argentina montou a barraca. Primeira experiência da Camila com barracas. Ela, mais experiente, disse que tinha que ser na sombra por causa do calor do dia. Perfeito. Árvore enorme. Tudo dando certo. Banheiro pertinho todo feito de pedra e sem teto, o banheiro que ela sempre sonhou para sua casa. Tinha água e paredes. E ainda arrumaram um colchonete. Absolutamente sensacional àquela altura do dia. Era quinta-feira, dia 31 de dezembro.

“ - Amiga, temos que economizar. Não esquece, tá? Então vamos beber Cantina da Serra no reveillon e comer tapioca.
- Fechado, pelo menos assim a gente emagrece.”

Ela adorava caipirinha e coca-cola, mas não dava pra tomar caipirinha com gelo sujo e coca-cola quente. Cantina da Serra era a bebida oficial dos freqüentadores da ilha. Vinho barato e ruim, mas doce, que descia feito suco de uva e evaporava como água pelo sol e calor do lugar.
Instalaram-se. Colocaram os biquínis e seguiram para a praia, no caminho pararam para comer tapioca. Chegando na praia encontraram Floriano, grande amigo de ambas, que cantava e tocava em uma banda. Camila, alta que só ela, começa a pular e dizer:- “Ebaaaaaa! Vamos nos abraçar!”. Encontraram muitos outros amigos, abraçaram todos eles e tomaram algumas cervejas quentes, claro que não pagas por elas.
Muitos amigos, abraços, mergulhos e cervejas quentes depois, resolveram voltar para a pousada, tomar um banho e ir até o bar onde Floriano iria cantar com sua banda.

“- Amiga, tô meio tonta... Cadê a barraca?
- Tá aqui, amiga. Bora descansar, depois a gente toma banho e vai encontrar com o pessoal.
- Tá bom... amiga, não consigo deitar, sou muito grande!! Vou ter q dormir que nem um “S”.
- Deita logo.
- Tá escuro, acho que vou ter medo de dormir aqui.
- Que nada, amiga. A pousada tá lotada, qualquer coisa vão escutar a gente.
- Tá bem.

...
- Droga! Tá tarde, já. Bora tomar banho.
- Ai, tô tonta mesmo.
- Ei, vê aqui se minha maquiagem tá certa...
- Hahahahhahahahahahahaha... Estás que nem o bozo!”


Saíram. Noite de reveillon, tudo lotado. Primeira parada, o mercadinho que vendia o garrafão de Cantina por cinco reais, Camila pula de alegria. Sentaram nas mesinhas em frente ao chalé mais caro da ilha, não estavam hospedadas lá, mas não custava sonhar um pouquinho.
No meio de um bolo de pessoas vestidas de branco ela encontrou seu ficante, a quem a Camila chamava de pequenino. Ele estava com um grupo de amigos que ela também conhecia. E deu meia noite, todos se abraçando, Camila principalmente, música da banda do Floriano e alguns garrafões de cantina alimentavam a felicidade de uma enorme turma de amigos reunidos.
Camila encontra um outro grupo, que ela não conhecia. Elas se separaram. Ela foi pra um luau na praia com o pequenino e sua turma, enquanto Camila era abordada.

“- Feliz Ano Novo!!!
- Obrigada.
- Você quer champagne?
- Não baby... Só tomo Cantina.
- Ah...tá.”


Camila se divertiu, pulou, dançou e abraçou. Até que resolveu ir para a pousada, dormir feito um “S” dentro da barraca.
Ela passou o melhor reveillon de sua vida. Luau na praia, milhões de amigos, reggae, pequenino, ondas molhando as havaianas nos pés, bunda suja de areia, tudo perfeito. Pena que a Camila já tinho ido dormir.
Sete da manhã, quando ela voltou para a pousada, encontrou Camila dormindo em uma das cadeiras do refeitório.

“- Amiga, acorda. Por que não foste pra barraca?
- Porque tive medo.
- Só tu mesmo, amiga. Bora dormir.
- E o pequenino? Foi legal?
- Ah amiga, ele é uma grande pessoa. Tenho que tomar banho, tô com areia até na córnea.
- Ai, amiga só tu mesmo.”


As malas ficavam trancadas dentro da pousada durante a noite, elas só tinham acesso a área de fora, onde ficava a barraca. Ela tomou banho e não tinha roupa para trocar.
Camila lembra com horror: “Solução: dormir pelada. Nunca imaginei ter que dormir com uma pelada. Que tristeza pra minha mãe...”

No outro dia, mais praia, mais amigos, mais abraços e mais cerveja quente. Camila encontra um amigo:

“- Amiga, vem conhecer meu amigo.
- Prazer, Gleidson. Estudei com a Camila... Sempre achei os cílios dela bonitos.
- É, tem alguém que curte meu cílios, ainda há esperança... Heheheheehehehehe.
- Vocês já vão?
- Estamos criando coragem pra andar
- Ah tá.
- Vamos, amiga. Até mais tarde, Gleidson.


Algodoal é um lugar pra quem tem muita disposição. Elas se divertiam muito, mas sabiam que só poderiam ir pra lá se estivesse realmente dispostas a andar muito e comer e dormir pouco. A volta da praia era sempre massacrante, a pele já estava ardida de tanto sol e o corpo cansado de um dia inteiro de banhos de mar, amigos, danças e abraços. Elas andavam em marcha lenta, contemplando o mar no final da tarde. Havia quem voltasse da praia nas carroças dos burricos, mas elas não tinham dinheiro para gastar com aquilo, voltariam andando mesmo. Até serem abordadas pelo dono de uma carroça:

“- Subam aí.
- Não moço, obrigada, mas a gente tá meio sem grana.
- Não, eu disse que é pra subir, já pagaram o transporte.
- Quem?
- Um moço lá atrás... E pagou bem pra deixar você na ponta da ilha.
- Então tá.


Subiram na carroça. O jegue disparou.

- Vai “Xumaki”, corre!!
- Moço, aqui tá bom!
- Não, o rapaz disse pra deixar lá na ponta.
- Mas a gente tá hospedada aqui!!!
- Mas ele me pagou pra levar até lá.
- É muito longe moço, a gente vai ter que voltar andando depois!
- Olha o Gleidson ali na outra carroça acenando!
- Foi ele que me pagou.
- Pára a charrete!!! A gente quer descer!!
- Deixa elas aqui mesmo.
- Mas o senhor me pagou pra levar até lá.
- Ai meu deus, era aonde elas queriam
- Amiga, tá muito longe... Não consigo parar de rir
- Desce, bora andando.
- Tchau Gleidson. Tchau “Xumaqui”!

Banho tomado, Cantina nova, banda do Floriano, tapioca. Elas não poderiam dormir muito tarde, voltariam cedo pra casa no outro dia, a diária ia acabar e elas não teriam como pagar mais uma.

“- Boa noite, amiga.
- Boa noite.
- Amiga... Não consigo dormir... Tô ouvindo passos.
- É claro né, Camila? As pessoas precisam ir ao banheiro.
- Ai, tá bom.
- Amiga, tem alguém aí fora, tô olhando há um tempão... Tô vendo uma sombra estranha... Um homem... Com um formato estranho... Acho que ele tá de pau duro!
- Tu estás doida? Como assim?
- Olha ali!!
- Há quanto tempo ele tá aí?
- Um tempão!
- Amiga, isso é a sombra de uma árvore, até porque se fosse um homem nem com viagra ele ia conseguir ficar tanto tempo assim!
- Poxa, tava até feliz já.
- Dorme logo, sua doida.”


Camila era extremamente medrosa, não dormiu a noite inteira escutando barulhos estranhos e vendo sombras indecentes. Acordava ela de cinco em cinco minutos com um medo novo. Ela era pequenina, cabia direitinho dentro da barraca e ainda sobrava, enquanto Camila fazia contorcionismos para poder entrar, sair e dormir. Na manhã do outro dia ela acordou, depois de uma noite boa, só atrapalhada pelos constantes surtos de Camila, que já estava sentada dentro da barraca, assustada.

“- Ai, amiga... Ainda bem que acordaste.
- Bom dia!
- Tem uma faca enterrada aqui no chão, perto da barraca!
- Meu Deus! É mesmo? Deve ser do pintudo.
- Tá vendo. Te falei.
- Bora logo embora.
- Só se for agora.”

E lá se foram elas, depois de um final de ano espetacular, digno de um registro como este, regado a Cantina da Serra e tapioquinha que elas lembram com água na boca até hoje. Tudo surreal, mas absurdamente divertido. Camila sempre diz “Valeu a pena ... Algodoal é zen... Niguém é de ninguém...”.
(Colaboração e diálogos: Camila Camacho)

5/15/06

A guerra.

Ela mora em São Paulo e está vendo tudo acontecer, pela TV é claro. Nas ruas as coisas não estão diferentes, congestionamentos quilométricos, estabelecimentos comerciais e shoppings fechados e nenhum ônibus na rua, além do povo visivelmente sobressaltado. Ela constatou que pela TV as coisas são muito menos aterrorizantes, parece que pode estar tudo isso acontecendo lá do outro lado do mundo, onde costumam acontecer as guerras.
A decisão de ignorar os noticiários da TV e andar até o supermercado mais próximo (com todas as portas abertas e luzes acesas, milagrosamente) deu a ela a sensação real de estar vivendo no mesmo lugar que aparece no jornal. Dentro do supermercado tudo normal, música ambiente e ofertas anunciadas de cinco em cinco minutos. Tranqüilidade até o alarme incessante do carro dos bombeiros que passava em frente. Um onda de pedestres (em número quadriplicado por causa da falta de ônibus) avançou estabelecimento adentro, assustando mais ainda os que já estavam lá dentro.Nada aconteceu, era só um carro de bombeiros com a sirene ligada passando em uma das avenidas mais movimentadas da cidade. A diferença hoje está nos nervos dos moradores de São Paulo. Sim, ela está assustada.

5/14/06

O encontro.

Ela não costumava conversar com desconhecidos pelo MSN, quando percebia que não conhecia mesmo a criatura que tinha acabado de aceitar ela excluía e bloqueava, sem dó nem piedade, principalmente os que quando perguntados quem eram respondiam: “Acho que vc não me conhece, mas podemos nos conhecer melhor, o que acha?”. Eram excluídos da lista na hora, e ela nem pensava duas vezes.
A exceção aconteceu no dia que um cara de nick Gabriel apareceu e demonstrou um humor fora do comum desde o início, inclusive quando fora perguntado quem era, o papo começou a fluir e ela se divertiu bastante, ele ligou a webcam, fez caretas, ligou o microfone e falou coisas inteligentes. Ele conseguiu, permaneceu na lista de contatos e ela não o considerou um mala.
Conversaram mais uma vez e ele pediu o telefone dela, alegando não usar muito o computador. Ela deu. Era um cara bacana, a webcam e o microfone provaram que ele existia de verdade. Ela nunca teria acesso ao atestado de antecedentes criminais do rapaz, então tinha que confiar na sua intuição e nas boas intenções que ele aparentava ter.
Semanas se passaram e ele telefonava sempre. Conversavam muito, riam, descobriam coisas em comum e gostos parecidos.
Um dia ele propôs um encontro. Encontro mesmo, pra se encontrar e bater papo. Não um encontro com intenções românticas ou similar. Ela topou.
Ela propôs uma lanchonete, estava morrendo de fome. Ele topou. Ela não estava nem um pouco interessada em um encontro romântico, senão não teria proposto a lanchonete da esquina, com uma enorme possibilidade dele presenciar uma cena aterrorizante dela com o queixo lambuzado de maionese.
Comeram sanduíches entre gargalhadas e mais descobertas de gostos comuns. Ele não fazia nem um pouco o tipo dela, mas a amizade era inevitável frente a tanta afinidade. Ela olhou no relógio, estava tarde, ela tinha aula de manhã, cedo.
Ele levou ela pra casa. Na hora da despedida tentou um beijo, ela disse que era melhor não, ele insistiu, ela pediu bons motivos, ele deu, e conseguiu o beijo. E ela pensou no que um bom papo é capaz de fazer.
Continuaram conversando antes dela descer do carro até que em algum momento da conversa ele falou de visual, que já tinha usado cabelo grande e cavanhaque, e lembrou que talvez pudesse ter uma foto dessa época em alguma carteirinha antiga guardada na carteira. Abriu a carteira, encontrou a foto e mostrou pra ela.Ela olhou a foto e inevitavelmente o nome embaixo dela. Depois de semanas de conversas pelo telefone e alguns beijos ela pergunta pra ele: “Teu nome é Rodrigo?”

Ela vai voltar.


Ela mora em outra cidade há dois anos e meio, há uma semana resolveu voltar pra casa depois de algum tempo de indecisão, de dúvidas sobre se deveria ficar, estudar e trabalhar na megalópole ou se deveria voltar pra casa, levar um a vida calma e normal e estar sempre perto de todos que ela amava. A decisão de voltar pra casa a deixou mais leve.
Segundo domingo de maio é comemorado o Dia das Mães. Ok, um domingo é sempre um domingo, nada fazia deste, especificamente, diferente pra ela, somente a lembrança de que todos estariam reunidos na casa de um dos membros de sua família gigantesca, traduzindo em números, mais de noventa por cento de todas as pessoas que ela mais ama no mundo. Hummmm, ótima razão pra voltar!
O tal Dia das Mães. A reunião de família faria diferença, sim. Mas só. Ela estava desempregada, qualquer presente que ela comprasse com o cartão de crédito seria praticamente um auto-presente-surpresa para sua mãe. Um presente seria legal, um cartão também; mas o melhor presente de todos seria estar do lado, não no segundo domingo de maio de todos os anos, mas em todos os dias de todos os anos, inclusive os domingos, afinal de contas foi da mãe que ela mais sentiu saudade durante os dois anos e meio em que esteve morando fora. Agora ela está tranqüila. Ligou pra casa, desejou feliz dia das mães, desligou o telefone e não ficou se lamentando por não estar lá. Pela primeira vez em dois anos e meio ela não lamentou. Ficou feliz com a possibilidade de nunca mais estar distante nos dias especiais, e mais do que nos especiais, ficou feliz com a possibilidade de estar lá, todos o dias, morando de novo debaixo das asas da mãe que, diz a ela duvidar de vez em quando, é e sempre será a pessoa mais importante de sua vida.

5/13/06

A prima adolescente.

Ela sempre dizia que sua vida era um seriado e, de fato, com ela tudo podia acontecer. Sempre comentava com os amigos que tinha que começar a escrever sobre as coisas inusitadas que lhe aconteciam e o blog foi o meio mais fácil (no sentido de escrever e clicar em “publicar”. Formatar ainda lhe dá dor de cabeça.) e democrático para cumprir o prometido.
Era difícil pra ela confessar que era uma completa imbecil com aquele negócio de publicar uma simples página de internet, ainda mais quando sua prima de 13 anos, a quem pediu socorro para a árdua tarefa, se limita a responder: “Ms eh taUumM fáciLL” ou “AaaHH NuMM Sei ExPliK!!”. Sim, a prima adolescente tem um blog e fez em 20 minutos o que ela está a 48 horas concentrada e aplicada tentando aprender... Sem nenhum sucesso.

Será que é assim mesmo?

Ela resolveu deixar a preguiça de lado e escrever, contar pra quem quisesse ler todas as baboseiras que lhe passavam pela cabeça ou lhe aconteciam, ainda que ninguém acreditasse. Sentar a bunda na cadeira e apertar incansavelmente as teclas do computador não era seu exercício favorito, o pensamento coordenado não fazia parte de seu cotidiano, que até então só era recheado por bate-papos com os amigos no MSN. O desafio era dialogar sozinha, sem interlocutor e opiniões em resposta, a não ser depois do texto pronto e publicado.
Aos poucos ela pretende deixar tudo com a sua cara, mas para isso precisa primeiro aprender a mexer nessas ferramentas bizarras e se familiarizar com esses nomes esquisitos que a fazem ter medo de clicar em qualquer botão. Como é difícil entender o funcionamento de um blog.