5/14/06

O encontro.

Ela não costumava conversar com desconhecidos pelo MSN, quando percebia que não conhecia mesmo a criatura que tinha acabado de aceitar ela excluía e bloqueava, sem dó nem piedade, principalmente os que quando perguntados quem eram respondiam: “Acho que vc não me conhece, mas podemos nos conhecer melhor, o que acha?”. Eram excluídos da lista na hora, e ela nem pensava duas vezes.
A exceção aconteceu no dia que um cara de nick Gabriel apareceu e demonstrou um humor fora do comum desde o início, inclusive quando fora perguntado quem era, o papo começou a fluir e ela se divertiu bastante, ele ligou a webcam, fez caretas, ligou o microfone e falou coisas inteligentes. Ele conseguiu, permaneceu na lista de contatos e ela não o considerou um mala.
Conversaram mais uma vez e ele pediu o telefone dela, alegando não usar muito o computador. Ela deu. Era um cara bacana, a webcam e o microfone provaram que ele existia de verdade. Ela nunca teria acesso ao atestado de antecedentes criminais do rapaz, então tinha que confiar na sua intuição e nas boas intenções que ele aparentava ter.
Semanas se passaram e ele telefonava sempre. Conversavam muito, riam, descobriam coisas em comum e gostos parecidos.
Um dia ele propôs um encontro. Encontro mesmo, pra se encontrar e bater papo. Não um encontro com intenções românticas ou similar. Ela topou.
Ela propôs uma lanchonete, estava morrendo de fome. Ele topou. Ela não estava nem um pouco interessada em um encontro romântico, senão não teria proposto a lanchonete da esquina, com uma enorme possibilidade dele presenciar uma cena aterrorizante dela com o queixo lambuzado de maionese.
Comeram sanduíches entre gargalhadas e mais descobertas de gostos comuns. Ele não fazia nem um pouco o tipo dela, mas a amizade era inevitável frente a tanta afinidade. Ela olhou no relógio, estava tarde, ela tinha aula de manhã, cedo.
Ele levou ela pra casa. Na hora da despedida tentou um beijo, ela disse que era melhor não, ele insistiu, ela pediu bons motivos, ele deu, e conseguiu o beijo. E ela pensou no que um bom papo é capaz de fazer.
Continuaram conversando antes dela descer do carro até que em algum momento da conversa ele falou de visual, que já tinha usado cabelo grande e cavanhaque, e lembrou que talvez pudesse ter uma foto dessa época em alguma carteirinha antiga guardada na carteira. Abriu a carteira, encontrou a foto e mostrou pra ela.Ela olhou a foto e inevitavelmente o nome embaixo dela. Depois de semanas de conversas pelo telefone e alguns beijos ela pergunta pra ele: “Teu nome é Rodrigo?”

No comments: